O Carinho que Engana Desvendando as Ocultas por Trás dos Gestos Afetuosos

No intrincado universo dos relacionamentos contemporâneos, decifrar a linguagem do afeto e discernir a autenticidade das intenções por trás dos gestos carinhosos pode ser um desafio complexo e delicado. A fronteira entre o carinho genuíno, expressão de amor e cuidado, e o carinho manipulador, utilizado como instrumento de controle e poder, pode ser tênue e confusa.

Neste artigo, nos propomos a desvendar essa dinâmica complexa, explorando cinco tipos de carícias que, em vez de expressarem amor verdadeiro, podem revelar a sua ausência e servir como sinais de alerta para relacionamentos desequilibrados e potencialmente prejudiciais. Para aprofundar a análise,e falar da terapia de casal Recife buscaremos referências em autores renomados no campo dos relacionamentos, como John Gottman, Gary Chapman, bell hooks e Rubem Alves, entre outros.

1. O Toque que Aprisiona: Segurar a Mão de Maneira Insensível

Segurar a mão, um gesto repleto de simbolismo e intimidade, pode transmitir uma variedade de mensagens, dependendo da forma como é executado e da intenção que o motiva. Quando realizado com amor, respeito e sensibilidade, o toque entrelaçado das mãos representa união, conexão, apoio mútuo e cumplicidade. No entanto, quando o gesto se torna possessivo, controlador, desprovido de sensibilidade ou invasivo, ele pode revelar uma dinâmica de poder desigual e a falta de consideração pelas necessidades, limites e sentimentos da parceira.

Imagine uma mulher que, ao ter sua mão segurada pelo parceiro, sente-se desconfortável, aprisionada, controlada ou invadida, em vez de experimentar a sensação de afeto, proteção e segurança que o gesto deveria transmitir. Em vez de união e conexão, o toque gera uma sensação de opressão, restrição e violação de seus limites pessoais. Esse tipo de carinho insensível, desprovido de empatia e sintonia com as emoções da parceira, pode ser um reflexo de uma personalidade dominadora, que busca exercer controle sobre a mulher, desconsiderando sua individualidade, autonomia e direito à autodeterminação.

John Gottman, renomado pesquisador na área da psicologia conjugal e autor do best-seller “Os Sete Princípios para o Casamento Dar Certo”, enfatiza a importância da “criação de um mapa do amor”, ou seja, do conhecimento profundo, respeitoso e empático do mundo interior do parceiro, de suas emoções, necessidades, desejos, valores e sonhos. A falta de sensibilidade no toque, a incapacidade de perceber e respeitar os limites da parceira e a tendência ao controle e à dominação podem indicar uma falha nesse processo, uma incapacidade de se conectar com o outro em um nível profundo e autêntico.

2. Carícias com Segundas Intenções: O Afeto como Prelúdio para a Intimidade

O carinho genuíno, expressão sincera de afeto, cuidado, ternura e conexão emocional, desempenha um papel fundamental na construção e no fortalecimento dos laços afetivos em um relacionamento. No entanto, quando as carícias são utilizadas como mera estratégia para alcançar objetivos específicos, como persuadir a parceira a ter relações sexuais, elas perdem sua autenticidade, se despojam de seu significado profundo e se tornam um instrumento de manipulação, controle e exploração.

Essa dinâmica, comum em relacionamentos desequilibrados, marcados pela falta de reciprocidade, respeito e consideração pelos desejos e limites da parceira, revela uma visão distorcida do amor e da intimidade. O homem, movido por seus próprios interesses e desejos, utiliza o carinho como isca, como uma forma de “comprar” o acesso ao corpo da mulher, ignorando suas necessidades emocionais, seus sentimentos e sua individualidade. Ele a reduz à condição de objeto de satisfação sexual, desconsiderando sua dignidade, sua autonomia e seu direito de escolha.

Gary Chapman, renomado conselheiro conjugal e autor do best-seller “As Cinco Linguagens do Amor”, destaca a importância de compreender e respeitar as diferentes formas de expressar e receber amor. Segundo Chapman, cada pessoa possui uma “linguagem do amor” primária, uma forma específica de se sentir amada e valorizada, que pode ser através de palavras de afirmação, atos de serviço, presentes, tempo de qualidade ou toque físico. Utilizar o carinho como moeda de troca para obter favores sexuais, sem levar em consideração a linguagem do amor da parceira e sem se preocupar em atender às suas necessidades emocionais, demonstra uma falha na comunicação afetiva, uma distorção do conceito de amor e uma falta de respeito pela individualidade da mulher.

3. Elogios Envenenados: A Armadilha da Manipulação Emocional

Os elogios, quando sinceros, genuínos e desprovidos de segundas intenções, têm o poder de elevar a autoestima, fortalecer a conexão entre os parceiros, nutrir o relacionamento e promover o crescimento individual e mútuo. No entanto, quando os elogios são seguidos de críticas sutis, observações negativas, comparações

depreciativas ou manipulações sutis, eles se transformam em armadilhas perigosas, em instrumentos de controle e dominação emocional.

Imagine um homem que elogia a aparência de sua parceira, afirmando que ela está linda com um vestido novo, mas logo em seguida faz um comentário depreciativo sobre seu peso, dizendo que ela “ficaria ainda melhor se perdesse alguns quilinhos”. Ou então, ele a elogia por sua inteligência e competência no trabalho, mas em seguida faz uma observação que mina sua autoconfiança, afirmando que ela “deveria ser mais assertiva e impor suas ideias com mais firmeza”. Essa tática, conhecida como “negging”, consiste em minar a autoconfiança da mulher, fazendo-a duvidar de si mesma e de seu valor, para torná-la mais vulnerável à manipulação e ao controle.

O elogio inicial serve como isca, criando uma falsa sensação de aprovação e validação, enquanto a crítica posterior, disfarçada de “sugestão” ou “conselho”, visa desestabilizar, gerar insegurança e fazer com que a mulher busque a aprovação do parceiro de forma constante. Esse ciclo de reforço positivo e punição, de aprovação e desaprovação, é uma forma de abuso emocional insidiosa e perversa, que pode ter consequências devastadoras para a autoestima, a saúde mental e o bem-estar da vítima.

A manipulação emocional se caracteriza pela utilização de táticas sutis e disfarçadas para controlar, influenciar e explorar os sentimentos, pensamentos e comportamentos do outro. O manipulador busca satisfazer suas próprias necessidades e desejos às custas do bem-estar da vítima, utilizando o carinho, os elogios e outras formas de afeto como instrumentos de controle e dominação.

4. A Objetificação da Mulher: Quando o Afeto é Substituído pela Utilidade

Em um relacionamento amoroso saudável, baseado no respeito, na igualdade, na reciprocidade e no reconhecimento mútuo da individualidade e do valor intrínseco de cada parceiro, o afeto se manifesta como uma expressão genuína de amor, cuidado, admiração e desejo de bem-estar do outro. No entanto, quando o homem se aproxima da mulher apenas quando deseja algo, seja satisfação sexual, apoio emocional, companhia, ajuda prática ou qualquer outro tipo de “utilidade”, ele a reduz à condição de objeto, coisificando-a, desumanizando-a e desconsiderando sua dignidade, seus sentimentos e suas necessidades.

Essa objetificação, essa instrumentalização do outro, se manifesta no desinteresse pelos pensamentos, sentimentos, experiências, sonhos e aspirações da parceira. O homem se concentra em suas próprias necessidades, utilizando a mulher como meio para alcançar seus objetivos, sem se importar com o impacto de suas ações sobre ela, com seu bem-estar emocional ou com sua realização pessoal. Ele a vê como uma fonte de recursos a serem explorados, e não como uma parceira igual, merecedora de amor, respeito e consideração.

bell hooks, renomada feminista, escritora e ativista social, em seu livro “Tudo Sobre o Amor”, defende que o amor verdadeiro se baseia no respeito, na justiça, no cuidado, na responsabilidade, no compromisso com o bem-estar do outro e na construção de um relacionamento igualitário, onde ambos os parceiros se sintam livres, seguros e valorizados. A objetificação, por sua vez, representa a negação do amor, a redução do ser humano à condição de mera ferramenta a serviço dos interesses alheios, uma forma de desumanização e exploração que fere a dignidade e impede o florescimento do amor autêntico.

5. Palavras Doces, Intenções Amargas: A Sedução como Máscara

A linguagem do amor, em sua plenitude e autenticidade, se expressa não apenas por meio de gestos carinhosos, mas também através de palavras de afeto, apreço, admiração, apoio, encorajamento e reconhecimento. As palavras têm o poder de tocar o coração, de nutrir a alma, de fortalecer os laços afetivos e de construir pontes de intimidade e conexão entre os parceiros. No entanto, quando as palavras doces, as juras de amor, as promessas e as declarações apaixonadas são utilizadas como instrumento de manipulação, sedução e controle, elas perdem sua autenticidade, se esvaziam de significado e se transformam em uma arma poderosa nas mãos de um sedutor habil em mascarar suas reais intenções.

Imagine um homem que profere juras de amor eterno, faz promessas de fidelidade e dedicação, declara seus sentimentos com intensidade e paixão, mas suas ações não correspondem às suas palavras. Ele pode ser carinhoso e atencioso em alguns momentos, mas se mostra egoísta, desrespeitoso, indiferente ou manipulador em outros. Seu objetivo principal é conduzir a parceira para a intimidade física, utilizando as palavras como ferramenta de sedução, como um canto de sereia que a atrai para seus braços, mas que não se sustenta na realidade de seus sentimentos e ações.

Rubem Alves, renomado educador, escritor e poeta,

em sua obra “O Amor que Acende a Lua”, afirma que “o amor é um dom, não uma estratégia”. Utilizar palavras doces como meio de sedução e manipulação representa uma profanação do amor, uma deturpação de seu significado mais profundo, uma redução de sua essência à mera instrumentalização do outro. O amor autêntico se manifesta na sinceridade, na transparência, na coerência entre palavras e ações, no respeito à individualidade do outro e no compromisso com seu bem-estar.

Conclusão: A Importância do Discernimento e a Busca por Relacionamentos Autênticos

No complexo e multifacetado universo dos relacionamentos humanos, nem sempre o carinho é sinônimo de amor. Gestos e palavras, por mais afetuosos que pareçam à primeira vista, podem esconder segundas intenções, revelando a ausência de um sentimento genuíno, a presença de dinâmicas de poder desiguais e a utilização do afeto como instrumento de manipulação, controle e exploração.

Reconhecer os sinais de alerta, como o toque insensível, as carícias com segundas intenções, os elogios envenenados, a objetificação e as palavras doces com intenções ocultas, é essencial para proteger-se de relacionamentos prejudiciais, que minam a autoestima, ferem a dignidade e impedem o florescimento do amor autêntico. Desenvolver o discernimento, a capacidade de perceber as sutilezas da linguagem do afeto e de identificar as intenções que se escondem por trás dos gestos e das palavras, é fundamental para construir relacionamentos saudáveis, baseados no respeito, na igualdade, na reciprocidade e no amor verdadeiro.

A busca por relacionamentos autênticos, onde o afeto se manifesta em sua plenitude e o amor se torna um catalisador de crescimento e transformação, requer coragem, autoconhecimento, clareza de propósitos e a disposição de se conectar com o outro em um nível profundo e significativo. É um caminho de descobertas, de superação de desafios e de construção de laços afetivos duradouros e transformadores, encontre um psicólogo perto de você.

Referências Bibliográficas:

  • Alves, Rubem. O Amor que Acende a Lua. Editora Planeta, 2006.
  • Chapman, Gary. As Cinco Linguagens do Amor. Editora Mundo Cristão, 2015.
  • Gottman, John. Os Sete Princípios para o Casamento Dar Certo. Editora Objetiva, 2017.
  • hooks, bell. Tudo Sobre o Amor. Editora Elefante, 2022.

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