Todo relacionamento tem início com ambos os lados sonhando em ter uma família, ter uma pessoa companheira ao seu lado e ter uma vida feliz.

Depois talvez cheguem os filhos e tudo ficará bem.

Pelo menos é assim que a maioria das pessoas pensa que vai acontecer.

Estudos mostram que até nosso cérebro passa a funcionar de maneira diferente quando dentro de um relacionamento amoroso.

A produção de substâncias como serotonina, norepinefrina, dopamina e oxitocina são responsáveis por produzir a sensação de atração e apego que sentimos pelo outro.

Quando o sexo está presente na vida do casal de uma forma marcante, o efeito destas substâncias no nosso circuito neurológico pode ser ainda mais marcante.

Isto porque, conforme já apontado em várias evidências científicas, a relação sexual produz muito mais o hormônio oxitocina no nosso cérebro, que aumenta ainda mais a sensação de apego e segurança que sentimos pela pessoa.

Podemos entender então que uma relação amorosa constante desencadeia uma série de processos no cérebro que trazem muitas sensações de prazer e segurança.

Quando o relacionamento acaba, o estímulo para produzir esta sensação é cortado. Não é nenhum exagero quando ouvimos a pessoa dizer que quando se separou sofreu tanto que sentiu “uma dor na alma”.

Uma área no cérebro chamada VTA (sigla em inglês para Área Tegmental Ventral) que é a área que processa e elabora as recompensas, vai sofrer alterações durante o relacionamento amoroso. O cérebro entende o estímulo do carinho, afeto que a pessoa nos oferece como bom e produz sensações prazerosas.

Tais sensações de euforia são equivalentes aos efeitos de algumas drogas.

Entendendo como nossa cabeça funciona diante do término fica mais fácil assimilar porque sentimos tanta falta do outro que parece até que a ausência “dói”.

Quando o cérebro percebe que não está mais disponível o que te faz bem (no caso, o ex), a produção do hormônio cortisol aumenta a fim de diminuir o stress diante da falta daquele estímulo que me fazia sentir bem, seguro ou com prazer.

O problema é que quando o cérebro aumenta a produção de cortisol o aumento desta substância no organismo traz efeitos colaterais desconfortantes como a falta de sono, aumento da vontade de comer doce ou carboidratos, a ansiedade aumenta, a libido diminui, podemos desenvolver dores de cabeça, ficar irritados com qualquer coisa, sentir cansaço constante entre outros sintomas.

Esta é uma das razões pelas quais é uma fase difícil o término do relacionamento.

Nos dias atuais onde tudo acontece mais rápido, os relacionamentos passaram a funcionar de maneira ágil e talvez por isso mesmo tendem a fracassar mais rápido.

Com o advento da Quarentena, onde os casais passaram a ter de ficar mais tempo juntos em casa, o índice de divórcios no país cresceu 75% nos últimos 5 anos.

No ano de 2020 com o advento da Pandemia este índice sobe para 260%.

As pessoas estão se casando (ou morando junto, que já caracteriza uma reunião estável) mais rápido e se separando na mesma proporção de velocidade.

Independente de quem pede o fim da relação, há sempre um processo de sofrimento quando a convivência termina.

É o fim de todo um investimento emocional, afetivo e também financeiro, claro.

O luto que acontece quando ocorre separação vai atingir o casal de maneiras e intensidades diferentes.

Para assimilar melhor esta separação e passar por esta fase tão complicada com mais assertividade e se recuperar melhor, vamos entender como podemos lidar com a triste constatação: acabou. E agora?

Conforme dito anteriormente, a separação amorosa é um processo de luto.

A pessoa ou as pessoas entram em uma fase de sofrimento que pode durar dias, meses ou anos, dependendo do tempo de relacionamento ou de como cada um aprendeu a lidar com perda afetiva.

Precisamos entender as fases do luto para que o processo de desligamento da pessoa com quem convivemos por um bom tempo seja o menos traumático possível.

O luto se divide em fases bem específicas: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

O primeiro impacto diante do término é a dificuldade de aceitar logo de cara. A negação é não querer enxergar o óbvio, que aquela pessoa não está mais por perto.

Algumas pessoas inventam muitas desculpas quando não querem aceitar o término: inventam motivos para pegar suas coisas na casa do ex, mantém contato constante com a família deste para ter uma desculpa para esbarrar com ele ou saber de sua vida, outros perseguem o ex nas redes sociais, etc.

Cada um age de uma forma pessoal durante esta negação.

Na fase da raiva a pessoa passa a esbravejar com todos ao seu redor. Tudo é culpa de fulano, cicrano, culpa a si mesmo. O mau humor predomina por um tempo.

Quando chega a fase da barganha, a pessoa tentar fazer uma troca. É o famoso discurso do “se você me aceitar de volta eu vou mudar” ou algo deste tipo. Existe a intenção de negociar uma volta.

Quando chega a fase da depressão, é o início da elaboração real da situação.

A pessoa terá seu ânimo reduzido drasticamente, evitará muitos contatos, vai se recolher e sofrer.

O mais saudável é permitir-se sofrer e assumir que sim, estou triste.

Isto é questão de coragem, de conhecer e aceitar a si mesmo.

Por fim, a última fase deste luto da separação é a aceitação. É quando já elaboramos tudo, avaliamos os prós e contras e ficamos aptos a seguir em frente.

Uma coisa que sempre recomendamos no ambiente terapêutico quando uma pessoa chega pedindo ajuda para lidar com uma separação, é que ela se resguarde por um tempo.

Que fique sozinha, curta a si própria, retome o contato com os amigos até que ela se sinta mais forte para começar outro relacionamento.

O comportamento de engatar um romance logo após o término de outro, tem grandes chances de não dar certo.

Isto porque a comparação entre ex e atual é quase inevitável.

Não houve tempo para se ponderar o que foi o ultimo relacionamento, o que foi bom ou o que foi ruim, o que eu quero agora e o que eu não quero de jeito nenhum em um, etc.

Por isso, se possível, sempre que terminar um relacionamento dê um tempo para você.

É preciso se reabilitar emocionalmente. Assim você entra mais forte, mais amadurecido em uma nova relação se conhecendo melhor.

Permita-se sofrer para que você possa trabalhar o que o último relacionamento te trouxe enquanto aprendizado.

Não fique se culpando ou culpando o outro. Tudo tem um tempo de duração. Lá na frente e comum pensarmos ”nossa, ainda bem que não deu certo com o fulano porque senão, hoje eu não estaria aqui nesta situação muito melhor”.

Ter a certeza de que tudo acontece como tem que acontecer é comportamento de quem sabe lidar com as frustrações e entende que às vezes um acontecimento que hoje parece péssimo e devastador, amanhã será uma vantagem ter acontecido.

Tudo tem seu tempo e somos fortes o suficiente para encarar as alegrias e tristezas que todo relacionamento traz.

Vai doer sim, claro. Mas toda dor nos permite crescer e evoluir para ficarmos mais fortes na próxima situação que vamos enfrentar.

Quando o relacionamento acaba, temos de valorizar a máxima que diz “cada um tem seu tempo”.

As pessoas possuem um tempo pessoal no que se refere a emoções.

Cada um lida de um jeito e demora determinado tempo para se recuperar de uma decepção ou frustração amorosa.

Não se cobre tanto. Você vai se recuperar quando estiver pronto.

Não somos obrigados a dar satisfação de nossas dores para ninguém. Sofra o quanto precisar e como precisar.

Algumas pessoas superam o término em um mês, outros demoram mais de ano. O importante é buscar o reequilíbrio independente de quanto tempo isto possa demorar. Trata-se de seguir em frente, não importa a velocidade.

Porém, se a dor for demais, não precisa encarar sozinho.

Peça ajuda, puxe conversa com algum amigo, familiar ou se quiser, busque uma psicoterapia que vai lhe mostrar como lidar com isso através do processo de autoconhecimento.

Permita-se pedir ajuda. Não somos obrigados a ser fortes sempre. Aliás, o ser forte não é lidar com tudo sozinho, mas sim, reconhecer um momento de fragilidade.

Quem sente (e demonstra) tristeza não é fraco. Muito pelo contrário. Assumir e expressar uma emoção são sinal de coragem. Pois ainda é um tabu mostrar emoções ruins. Mas nós somos um pacote de emoções boas e ruins e demostrar isso, é atitude de quem está bem consigo mesmo.

Quando um relacionamento acaba, é comum sentir vontade ir até as redes sociais e verificar o que o ex anda fazendo.

Este comportamento é maravilhoso só se você quiser sofrer ainda mais.

Acompanhar redes sociais de ex é caminho certo para aumentar o sofrimento.

Se eu fico seguindo o ex pelas redes sociais, estou na fase de negação ainda. Acabo por prolongar meu sofrimento enquanto eu poderia estar atrás de outras ocupações como algum curso, leitura que poderia me ajudar a focar em outra coisa.

Manter curiosidade sobre como anda o ex é algo absolutamente normal, mas ir a redes sociais, buscar informações de datas do que ele fez, com quem ele está saindo ou se relacionando, etc. é receita certa para sofrer.

Pelo menos nos primeiros meses, evite ver as redes sociais dele. Corte o quanto antes.

Depois, quando se sentir mais forte, quando já estiver tocando a vida, naturalmente este contato poderá ser restabelecido. Mas isto se for realmente um contato de alguém que não lhe causa mais nenhum sentimento ruim de tristeza, raiva, inconformismo.

Manter amizade para ex é algo complicado quando não existe a certeza de já ter se recuperado do término.

Se eu escolho tirar esta pessoa da minha vida, isto não é sinal de infantilidade ou amargura, é simplesmente ser sincero comigo mesmo: não me faz bem, eu corto.

Se a rede social estiver cheia de amigos do ex, você pode sim ter a liberdade de excluir quem você acha que não lhe acrescenta nada mais. O foco é sempre você se preservar, passar por uma fase complicada com o mínimo de gente atrapalhando sua recuperação.

Outra maneira saudável de lidar com o fim do relacionamento é escrever o que você tem sentido.

Colocar para fora tudo que você passou vai aliviar a tensão e aos poucos você vai perceber que existiam muito pontos ruins dentro do relacionamento que você foi deixando para lá, mas mesmo assim sofria por isso.

Identificar e reconhecer que houve momentos ruins é trabalhar a consciência, trabalhar com fatos concretos para seu próprio bem na hora de promover autoconhecimento.

Nossa memória funciona guardando mais facilmente as boas lembranças. Tanto que temos o costume de nos lembrar de anos passados com a frase “ah, como eu era feliz e não sabia!” Mas não é bem assim que as coisas funcionam.

Nós temos facilidade de puxar da memória bons momentos. Os momentos ruins, nosso cérebro tende a guardar em departamentos mais difíceis de acessar.

Por isto que é fácil lembrar-se de momentos bons e mais complicado lembrar de momentos ruins.

Aceitar a nova fase, criar novas rotinas são comportamentos que trarão inúmeros benefícios.

Somos feitos de momentos, fases. Reconhecer que a fase com o fulano acabou e reconstruir uma nova fase é o recomendado e é muito mais saudável.

Ao se dedicar a novos projetos, rotinas, hobbies, você está buscando se conhecer melhor e explorar novas habilidades que podem ajudar na sua recuperação de pós-término.

O importante é ter consciência de que procurar culpados para o fim do relacionamento não é saudável.

Às vezes encontramos pessoas que se tornam obcecados em encontrar um culpado para toda situação de término de relacionamento.

Não é saudável este tipo de comportamento porque mesmo se encontrar um “culpado”, isto não vai amenizar em nada o processo de desligamento afetivo.

É preciso seguir adiante. O que aconteceu já foi, é outra fase.

O agora exige sua atenção.

Aproveite para retomar suas amizades, cuidar de familiares que podem ter ficado de lado enquanto você estava envolvido com outra pessoa.

Embora tenhamos de focar no novo, na nova fase de vida, o relacionamento que acabou não deve se transformar em um tabu.

Proibir de se falar o nome em casa, brigar quando alguém toca no assunto de seu antigo relacionamento é um sinal de que você ainda não se desligou totalmente.

Quando o desligamento realmente ocorrer, o máximo que vai acontecer quando alguém tocar no nome do ex é você achar que este assunto não é interessante.

Sem peso, sem raiva. É só desinteresse.

Caso se sinta desconfortável quando o assunto “EX” surgir, diga que não quer falar sobre isso, que não gosta.

Esta é uma atitude sensata. Aliás, independente do assunto, se você não quer falar disso, peça gentilmente para as pessoas mudarem de assunto ou, se quiser saia do ambiente e vá fazer outra coisa.

Se preservar é sinal de amor próprio.

Muitos darão opinião e alguns serão cruéis ao dizer que você não consegue esquecer, que você tem que deixar para lá porque o fulano já até arrumou outra pessoa, etc.

Não que saber do ex seja ruim, mas existem pessoas que não tem respeito ou consideração pelo que passamos.

Só você sabe se está bem com isso ou não. Então, não importa o que os outros acham, é você que sabe como deve agir a fim de se preservar. Mesmo que alguns achem que você é bobo, que fica sofrendo à toa ou algo assim, o assunto é só seu.

O sofrer por amor é algo que não tem como dar receita ou dizer que seu sofrimento é besteira.

Só quem passa pela situação sabe como é.

Quando um relacionamento chega ao fim inicia-se um novo ciclo em sua vida e é assim que a vida funciona.

Devemos tirar um tempo para digerir este término, nos recuperar, não ficar atrás de motivos ou culpados.

Acabou e pronto. Esta é a informação mais importante.

Quanto antes assimilarmos isto, melhor.

No caso de um término por traição, pode haver maiores complicações, claro.

Além do sofrimento já esperado decorrente do rompimento, a dor de ser traído vem complicar ainda mais os sentimentos.

A traição vai somar aos sentimentos do término a mágoa, o sentimento de ser uma pessoa burra por não perceber nada logo, a raiva da terceira pessoa que entrou no relacionamento entre outros “adicionais de sofrimento”.

Vamos encarar esta situação de término devido à traição com uma abordagem mais específica.

A primeira coisa que temos de entender é que quando o outro quer trair, ele o fará.

Não adianta a pessoa estar com alguém lindo, companheiro, que ajudou muito na vida familiar ou na carreira, alguém que tem um sexo maravilhoso, etc. Se o outro quiser trair, ele o fará.

Então, não é culpa sua este comportamento. Foi escolha dele (ou dela).

A pessoa quando realmente ama, ela busca a cia do companheiro. Ela gostar de estar com ele mesmo diante de outras pessoas que às vezes até tentam seduzir na cara dura mesmo.

Não fique achando que a culpa da traição é sua, dele, da terceira pessoa. Ocorreu uma falha grave, que você não aceita, então é hora de acabar logo.

Antes que aconteça novamente.

Traição é um comportamento dentro do relacionamento que só cada casal vai saber como lidar. Alguns não terminam, mantém o relacionamento, resolvem tentar novamente.

Mas para manter o relacionamento depois de uma traição o perdão tem de ser firme.

Não adianta não terminar, dizer que perdoa se na primeira briga a traição aparece na hora de agredir verbalmente.

Caso você tenha sido traído, o ideal é dar um tempo, ficar sozinho e reavaliar a situação com calma.

Você precisa sofrer o que tem para sofrer. Depois avaliar se vale a pena, se você está disposto a dar outra chance.

Repare que todo este processo de reflexão se vai ou se volta depende só de você.

Só você sabe o que você consegue elaborar, como lidar com os sentimentos de mágoa, menos valia, insegurança que são despertados depois de uma traição.

Alguns casais que estão juntos há anos conseguiram superar a traição e o relacionamento se recuperou ao longo dos anos.

Isto só é possível quando a parte que traiu perdoa e a parte que traiu muda seu comportamento.

Como todo relacionamento que acaba, independente do motivo, nós aprendemos e evoluímos muito pessoalmente.

O sofrer faz parte de qualquer aprendizado que vale a pena.

Aceitar o término, entender qual a dinâmica no relacionamento que acabou por desencadear o término são atitudes saudáveis.

Uma situação que acontece muito até hoje em dia são os casamentos por aparência.

Seja por motivos financeiros, por medo de mudar de vida ou receio de mostrar para os outros que “você não conseguiu se manter casado” , o casamento de aparência é uma modalidade muito triste de relação.

Isto porque uma hora esta situação traz muitos conflitos.

Estar com alguém para manter aparência é o sinal mais evidente do quanto a pessoa (ou o casal) é insegura.

Quando um casamento está em crise, o ideal e buscar uma terapia de casal não para resgatar a relação necessariamente, mas para enxergar este relacionamento de verdade. Sem ilusões ou desculpas sociais ou ilusões. Todo relacionamento afetivo precisa estar pautado na verdade.

A verdade tem de ser a base. Se eu aceito morar com alguém que hoje em dia eu não tenho nem carinho por esta pessoa, eu tenho problemas de insegurança.

Por outro lado, se a pessoa aceita morar junto de uma pessoa que não gosta mais e se acomoda nesta situação, algum ganho ela tem.

Mas será saudável permanecer em uma dinâmica afetiva que na rua se mostra perfeita, mas dentro de casa um mal fala com o outro?

Isso tudo merece atenção. É preciso entender por que às vezes nos anulamos totalmente só para continuar uma relação.

Terminar um relacionamento é doloroso tanto para quem termina quanto para quem “foi terminado”.

Ambos os lados sofrem. Faz parte.

Mas este sofrimento vai passar e talvez até nos ajude a cuidar mais de nós mesmos, a focar mais no autoconhecimento.

Todo relacionamento afetivo dá certo quando este nos ajuda a ser melhor. Seja estando junto, seja estando separados, a dica é tirar o máximo de experiência e evoluir depois da fase a dois.

Como todo processo de evolução emocional, o sofrer faz parte. E somente sofrendo é que aprendemos a lidar com a tristeza e outras emoções que não são tão boas.

Tudo tem seu tempo, tudo acontece para o melhor. Depois certamente iremos chegar à conclusão de que terminar um relacionamento pode ser uma ferramenta poderosa de ajuda para nos deixar mais fortes e seguros de si, mais prontos para lidar com o sentir e dar amor usando a inteligência emocional.