Arrependimento é um estado cognitivo ou emocional, que envolve culpar a si mesmo por um resultado ruim. Deste modo, sentir-se submerso em uma sensação de perda ou tristeza pelo que poderia ter sido, bem como desejar poder desfazer uma escolha anteriormente feita.

Igualmente, o arrependimento é uma experiência psicológica importante, porém muitas vezes mal compreendida. Há um velho ditado que versa sobre viver a vida sem nenhum arrependimento. Todavia, esta é uma abordagem simplificada demais das relações humanas e suas escolhas.

Sentimentos de arrependimento são resultado de olhar para trás em comportamentos e decisões anteriores, acreditando que um resultado melhor poderia ter ocorrido se uma escolha diferente fosse feita. Porém, fica mais fácil escolher quando sabemos que uma das opções teve resultado desastroso.

Mais erros, menos erros

É como, por exemplo, ser obrigado a escolher entre três saídas em uma rotatória sem sinalização. A primeira tentativa tem 33,3% de chance de ser a correta. Já em uma segunda tentativa, a chance de acerto dobra. Assim na vida: Sem erros, sem acertos.

Enfim, o arrependimento é um mecanismo emocional. Se alguém ruminar sobre as oportunidades perdidas, o arrependimento torna-se um elefante na sala de estar e pode impedir o crescimento.

Por outro lado, se o arrependimento nos lembra que nosso tempo é curto e que as oportunidades podem ser transitórias, ajuda-nos a lutar por uma vida bem vivida.

Os efeitos do arrependimento

Ao se arrepender, uma pessoa pode experimentar efeitos emocionais, cognitivos e neurofisiológicos. O arrependimento costuma ser acompanhado por outras emoções negativas, como culpa, decepção, autocensura e frustração.

Os pesquisadores divergem quanto ao que pode levar uma pessoa a arrepender-se. Segundo alguns estudiosos, a oportunidade gera arrependimento, que serve como correção, chamado de princípio da oportunidade.

Por exemplo, muitas pessoas lamentam ter estudado pouco; no entanto, a oportunidade de retificar esse déficit permanece aberta para a maioria das pessoas. Segundo essa teoria, os sentimentos de arrependimento continuarão até que uma ação corretiva seja tomada.

Outros pesquisadores, semelhantemente, acreditam que sentimentos de arrependimento são mais prováveis de ocorrer e mais proeminentes em situações em que não há oportunidade de retificar a decisão ou ação.

Ou seja, a oportunidade que existia antes, não foi aproveitada e agora está perdida. Pode-se argumentar que a idade é um fator que pode afetar as oportunidades disponíveis.

Definitivamente, a educação pode ser obtida em qualquer idade; no entanto, não é tão fácil para idosos, mas temos visto muitas pessoas se formando com mais de 70 anos. Da mesma forma, encontrar romance tarde na vida é mais difícil do que quando se é mais jovem, porém não é impossível.

Desculpas e justificativas

As desculpas podem ser de pouca ajuda para amenizar a dor do arrependimento. Assim, colocar a culpa de uma desistência na falta de recursos, de tempo ou na idade, pode ser uma autossabotagem.

O arrependimento pode ser uma emoção aversiva que afeta a satisfação com a vida. No entanto, se for confrontado de maneira adequada pode ter um efeito positivo, já que pode levar a uma análise retrospectiva que ajuda a entender o motivo pelo qual pensaram ou agiram daquela maneira.

Lidando com o passado e o futuro

Ao compreender seus pensamentos ou ações passadas, você pode sentir alívio, remorso ou autocondenação. Logo, mudar seus pensamentos e comportamentos podem levar ao aprendizado com os erros. Já que o reflexo disso afetará suas decisões e ações subsequentes.

Uma dica importante é não deixar que os sentimentos de arrependimento devorem você. Por isso, não permita que a culpa e o remorso se tornem esmagadores.

Aceite o que aconteceu e chegue a um acordo com isso, que algumas instâncias ou eventos que estão fora de seu controle, enquanto outros podem ser transformados. Por certo, ninguém passa pela vida sem arrepender-se de algo.

Por outro lado, não pese demais na culpa. Viva um dia de cada vez e tente torná-lo o mais leve possível.

Procure os benefícios que derivam do arrependimento e como isso te ajuda a se entender, assim como tornar-se uma pessoa melhor.

Arrependimento e reparação

Os sentimentos de arrependimento podem ser neutralizados se você procurar fazer ações reparadoras. Assim sendo, tente se desculpar com quem você magoou; evite procrastinar ao corrigir seu mau julgamento ou ação, ou ao menos tentar.

Considere as oportunidades de forma mais completa e aproveite aquelas que você poderia ter deixado escapar. Ao invés de se concentrar nos resultados negativos do arrependimento, esteja mais ciente de como o arrependimento estimulou você a mudar positivamente.

O arrependimento serve como uma fonte de percepção e aprendizado e apoia o desenvolvimento de uma sensibilidade crescente ao valor e à importância das oportunidades, dos relacionamentos e da fragilidade da vida.

Ação e inação

Pesquisadores descobriram que existem essencialmente duas formas de arrependimento: Pelo que não fez, incluindo perder ou não aproveitar as oportunidades quando surgiram, chamada de inação.

E o arrependimento pelo que se fez, incluindo erros, escolhas erradas, erros, etc. Este é conhecido como ação.

O impacto do tempo

A quantidade de tempo decorrido está relacionada diretamente ao arrependimento.

Por períodos mais curtos de tempo (por exemplo, no último ano ou mais), as pessoas são mais propensas a se arrepender das ações que tomaram, incluindo os erros que cometeram, do que das oportunidades que foram perdidas.

Eventualmente, com o passar do tempo, as pessoas tendem a se arrepender de suas omissões mais do que seus erros, ou seja, do que deixaram de fazer.

Três Eus

Segundo o psicólogo Tom Gilovich, nossos pesares mais duradouros são aqueles que se originam de nosso fracasso em viver à altura de nosso ser ideal. Então, ele afirma, as pessoas são mais atormentadas por arrependimentos por não cumprirem suas esperanças, objetivos e aspirações do que por não cumprirem seus deveres, obrigações e responsabilidades.

Com certeza, explica o psicólogo, não devemos viver de acordo com os deveres que é frustrante e pesado, além de perseguir uma pessoa para sempre. De fato, tantas grandes obras de ficção baseiam-se precisamente nesse fato.

Para o psicólogo, parte-se da ideia de que três elementos constituem o senso de identidade de uma pessoa: o eu real, o ideal e o que eu deveria. O eu real é feito dos atributos que uma pessoa acredita possuir.

O ideal são os atributos que ela gostaria de possuir, como esperanças, objetivos, aspirações ou desejos. O deveria é a pessoa que eles acham que deveria ter sido baseada em deveres, obrigações e responsabilidades, de acordo com Gilovich.

O psicólogo conclui que o que impede muita gente de atingir seus objetivos e ideais é a preocupação com a aparência e o que os outros irão pensar. Por exemplo, uma pessoa pode querer aprender a cantar, mas sentir que nunca cantaria bem o bastante para que as pessoas ouvissem.

“As pessoas são mais caridosas do que pensamos e também não nos notam tanto quanto pensamos”, disse ele. “Se é isso que está prendendo você, o medo do que as outras pessoas vão pensar e perceber”, e destaca o especialista, “então pare e pense que deveria fazer o que deseja, sem se importar”.

Quando o arrependimento é problemático

O arrependimento normalmente passa por uma sequência de fases. Primeiramente negação, quando há esperança de que negá-la vai fazer com que a coisa ruim que fiz ou a má decisão que tomei vá embora.

Na sequência, a perplexidade, que é a sensação de alienação. Quando a pessoa não pode acreditar que participou ou fez com que alguma situação ou resultado ocorresse, ou seja, uma sensação de estar fora de si.

Em seguida, a culpa, o desejo de se punir por um erro ou má escolha. Finalmente, ruminações, ou seja, pensar sobre isso repetidamente com desprezo por si mesmo. O arrependimento se torna problemático quando ocorre um ciclo crônico entre as duas últimas fases.

Além disso, quanto menos oportunidade se tem de mudar uma situação negativa que ele causou, mais provável é que ocorra um ciclo ruminativo, levando potencialmente a uma tristeza intensa, assim como auto degradação, ansiedade e depressão.

Arrependimento que consome

O arrependimento pode consumir tudo e pode destruir vidas. Dessa forma, um homem que não consegue se perdoar por ter traido sua primeira namorada e que não consegue manter um relacionamento sério há 30 anos.

Não é incomum que pessoas procurem terapia porque se sentem atormentados pelo arrependimento e incapazes de viver uma vida plena por causa disso, seja por causa de casos amorosos, escolhas de carreira ou relacionamentos.

A autoflagelação pode ser extremamente prejudicial à nossa saúde mental. Exaustivo, já que suga toda a alegria e satisfação dos nossos dias e nos deixa presos, sempre olhando para trás e incapazes de seguir em frente.

Fugindo ou aprendendo com o arrependimento

A terapeuta cognitivo-comportamental Windy Dryden diz que, quando estamos presos neste ciclo de arrependimento, caracterizado pela rigidez e inflexibilidade, apenas nos culpando pelo que aconteceu, ele será tóxico. Precisamos sim, ver nosso comportamento em um contexto mais amplo e entender por que seguimos o caminho com base nas informações que tínhamos na época.

No entanto, por mais estranho que pareça, existem pessoas para quem esse tipo de arrependimento pode se tornar um porto seguro, porque pode protegê-las da dor e dos riscos de viver uma vida plena. Assim como pode ser usado por alguns como “uma defesa contra o amor”.

Medo de amar

Posto que, uma mulher depois de deixar um casamento longo, se arrependeu de ter se casado muito jovem e ter ficado muito tempo, e estava determinada a não cometer os mesmos erros da próxima vez.

Pronta para começar do zero, ela se inscreveu em vários sites de namoro e começou a ter os primeiros encontros. Embora conhecesse homens que queriam um segundo encontro, sempre havia algo sobre eles que ela não tinha certeza, sempre ficava com o pé atrás.

Ela estava muito preocupada em entrar no relacionamento certo, mas, inconscientemente, fazia tudo o que podia para evitar entrar em um relacionamento.

Logo, se você evita fazer qualquer coisa que possa se arrepender mais tarde, você se desligará de relacionamentos, oportunidades e, eventualmente, da própria vida. E a ironia é que não há fonte mais poderosa de arrependimento do que não ter vivido algo.

Ao passo que se faz uma mudança no sentido de se permitir errar, também é capaz de ir além do primeiro encontro com um homem. Ainda que ela não tivesse certeza de que era totalmente certo para ela. Temos que nos abrir para a possibilidade de cometer erros e nos arrepender, para aprender com a experiência.

Inclusive, cada vez que aprendemos com eles, consequentemente, menos erros cometemos.

O perigo do arrependimento

O arrependimento não serve apenas como uma defesa contra o risco de amar – ele pode servir a um propósito mais sombrio, permitindo que as pessoas se escondam da dor mais profunda no remorso.

O remorso envolve aquele desconforto de ter feito algo ruim aos outros. E quando algo desagrada e desalinha as emoções é o começo de se tornar consciente do erro e querer fazer algo diferente. É um verdadeiro avanço na terapia quando as pessoas podem começar a sentir remorso genuíno pelo que fizeram. Por certo, algo autêntico começa a acontecer.

O que é preciso é deixar de usar o arrependimento como uma vara de auto mutilação e passar a sentir o remorso como um caminho para um futuro melhor.

Inclusive, isso requer uma mudança de uma mentalidade inflexível, que é a inimiga do aprendizado, para uma mentalidade que busque as motivações para as atitudes. Assim que você estiver nesse estado de espírito mais flexível, imagine que você está conversando com uma pessoa amada, seja um filho, amigo ou cônjuge. E que encontre esse mesmo espaço de aceitação e compaixão que tem pelo outro por si mesmo.

A função do arrependimento

O arrependimento é visto por muitos especialistas como um fenômeno mental condicionado pela evolução. Ou seja, é uma vantagem evolutiva para uma espécie aprender com os erros anteriores e lembrar-se deles para evitar erros futuros relacionados.

A experiência do passado permanece como uma angustiante advertência, abrindo caminho para melhores escolhas e ações futuras provavelmente tomadas com mais consciência e sabedoria.

Há uma tendência natural do ser humano de ver o caminho que você não seguiu como inevitavelmente melhor do que o caminho que você fez. Pode até ser que este outro caminho realmente tivesse funcionado melhor, mas a questão é que não podemos saber com certeza. Como na rotatória, a cada erro, maior a chance de acerto.

É a capacidade de se aceitar, de reconhecer que havia um contexto mais amplo para suas ações e de entender que você tomou as decisões que tomou com base nos valores e nas informações que tinha na época, que leva ao remorso e ao autoconhecimento.

Remorso

Carine Minem é psiquiatra consultora em psicoterapia forense e psicanalista, e parte importante de seu trabalho, segundo ela conta, envolve abordar o trauma devastador de suas infâncias, bem como os horrores que cometeram e que os levaram à psicoterapia forense. Isso, eventualmente, envolverá enfrentar o arrependimento.

“Uma das coisas que tento fazer com esse tipo de paciente é ajudá-los a desenvolver uma consciência de quem são e do que fizeram”, diz ela. “O arrependimento vem em um espectro”. Sua justificativa é que de um lado, há arrependimento para os outros; no outro, há arrependimento de si mesmo.

Assim que muitos de seus pacientes começam: alguns se arrependem de ter sido pegos, muitos se arrependem de ter sido transferidos para o hospital psiquiátrico de alta segurança porque é melhor ser visto (e ver a si mesmo) como um criminoso, do que como um doente.

Mudança

Em todos os casos, porém, a esperança é que ao longo do tratamento, que costuma durar entre cinco e 10 anos ou mais para seus pacientes mais graves, ela possa reparar alguns danos psicológicos de negligência e abuso em seus primeiros anos de vida. Desta maneira, o arrependimento pode se concentrar em outras pessoas e situações.

Esse tipo de arrependimento significativo para os outros, diz ela, é “uma conquista tremenda, mas leva muito tempo antes que a estrutura mental, o andaime da mente, seja suficientemente sólida para ser capaz de experimentá-la.”

Carine descreve homens condenados pela justiça que choraram copiosamente em sua frente. O remorso, segundo a especialista, tem a capacidade de trazer à tona sentimentos represados. Ela inclusive conta sobre um homem que disse nunca ter chorado em anos de terapia, certo dia ter olhado para ela com olhos marejados e dizer: “Se eu começar, sei que nunca vai parar, porque há um oceano de lágrimas por vir”.

Julgamentos

Remorso, ela diz, “é uma das experiências mais sofisticadas que alguém pode ter”. É por isso que ela confessa sempre se espantar quando um juiz, no final de um processo criminal, dizer que um dos seus potenciais pacientes não demonstrou nenhum remorso.

O remorso é uma emoção vivida por quem sente que cometeu uma ação contrária ao seu código moral. É caracterizado por sentimentos de arrependimento, ódio de si mesmo e um desejo de consertar a coisa errada.

Alguém incapaz de sentir remorso é frequentemente rotulado de sociopata ou psicopata. Alguns pesquisadores sugeriram recentemente que essa falta é mais uma característica da personalidade, um temperamento altamente racional que depende muito pouco da emoção. Em geral, uma pessoa precisa ser incapaz de sentir medo, bem como remorso, para desenvolver traços psicopáticos.

Ao ouvir estas palavras, é impossível não perceber o perigo de se dizer “Ele não demonstra ter arrependimentos”. Ser capaz de sentir arrependimento, o tipo certo dele, que pode ser compreendido, trabalhado e pode levar ao remorso e à reparação, é o sinal mais forte de uma vida vivida com sentido, de uma mente sã.

Arrependimento como algo bom

Se você não sentir arrependimento e não tiver remorso, você se encontrará na posição muito difícil de continuar a fazer algo destrutivo e sem discernimento, causando danos à família e aos amigos. Para Carine, “o arrependimento, embora seja muito doloroso, pode ser um presente. Pode ser a porta de entrada para uma maneira melhor de viver, de estar com os outros. ”

O arrependimento com base em atitudes flexíveis é a marca registrada da saúde mental. É um sinal de que você está comprometido com a vida. Sem arrependimento, não podemos aprender com nossos erros e estamos destinados a repeti-los.

Quando um homem teve ataques de pânico e arrependimento de ter focado sua vida no trabalho, em detrimento a sua família, ele procurou a terapia. Segundo a especialista, a crise de pânico foi “uma mensagem de sua alma dizendo que algo estava errado”. Isto é, essa era a parte mais saudável dele. A prova de que, segundo Carine, “Há vida depois do arrependimento”.

Como alcançar o arrependimento

Sentimentos de remorso podem cimentar-nos em memórias negativas do passado. Esse sentir pode surgir sempre que vemos um objeto que compramos por impulso, ou a pessoa que machucamos, ou pensamos sobre a gravidade do que fizemos. O remorso também pode ser como um outdoor escrito o que deveríamos ter feito melhor, mais cedo, mais certo ou com compaixão.

Em suma, o verdadeiro remorso não é o arrependimento sobre as consequências; é o arrependimento sobre o motivo.

Um estudante do ensino médio obteve as respostas de uma prova para um exame final (ele foi pego e expulso); um empreiteiro prometeu a vários de seus clientes idosos fazer reparos ou construir adições à casa e fugiu com seus pagamentos iniciais (ele cumpriu pena na prisão local).

E ainda uma funcionária de escritório descontente, que se sentiu desvalorizada e mal paga, roubou itens do trabalho (foi demitida). São casos assim, quando alguém conscientemente causa dano a outro, ou a si mesmo, que desperta o arrependimento.

Remediando o remorso

Aceite que não há solução para sentimentos de dor, perda e decepção. Eles fazem parte de estar vivo e podem ser vivenciados e sobrevividos. Envolva-se com a vida em todos os seus altos e baixos.

Veja o arrependimento como se fosse uma oportunidade de fazer as coisas de maneira diferente da próxima vez.

Se você causou ferimentos ou danos, ao invés de se punir, faça o que puder para reparar os danos.

Apoie amigos e familiares em seus desafios emocionais e assim também, permita-se ser apoiado também.

Por fim, permita-se errar e aprenda com isso.